Três erros têm
importunado a igreja no que diz respeito à correta relação entre lei e graça:
1. Antinomianismo -
a negação de qualquer regra sobre a vida dos crentes; a afirmação de que aos
homens não se requer que tenham uma vida santificada, posto que são salvos pela
graça, gratuita, de Deus. "Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com
as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa
obra" (Tt 1.16).
2. Cerimonialismo - a exigência de que os crentes devem observar
as ordenanças levíticas. A forma moderna desse erro é o ensino de que os ritos
cristãos são essenciais à salvação.
"Então alguns
que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos
circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos" (At 15.1).
3. Galacianismo - a mistura de lei e graça; o
ensino de que a justificação ocorre em parte pela graça e, em parte, pela lei;
ou de que a graça é dada a fim de capacitar um pecador, de outra forma
impotente, a guardar a lei. Contra tal erro, o mais difundido de todos, os
avisos solenes, a lógica irrefutável e as declarações enfáticas da epístola aos
Gálatas são a resposta final de Deus.
"Só quisera
saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da
fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora
pela carne?" (G13.2,3).
A exposição a
seguir pode ser útil, servindo como um esboço do ensinamento das Escrituras a
respeito desse importante assunto. As passagens citadas referem-se apenas à lei
moral.
O
QUE A LEI É
"Porque bem
sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado"
(Rm 7.14).
"Porque,
segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm 7.22).
"Sabemos,
porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente" (1 Tm 1.8).
"Ora, a lei
não é da fé" (G13.12).
O LEGÍTIMO USO DA LEI
"Que diremos
pois? E a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela
lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás" (Rm 7.7; veja também o versículo 13).
"Por isso
nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei
vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.20).
"Logo, para
que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões" (G1 3.19).
"Ora, nós
sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que
toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus"
(Rm 3.19). A lei tem apenas uma língua: "tudo o que a lei diz", o faz
apenas para condenar.
"Todos
aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está
escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las" (G1 3.10).
"Porque
qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado
de todos" (Tg 2.10).
"O ministério
da morte, gravado com letras em pedras" (2 Co 3.7).
"O ministério
da condenação" (2 Co 3.9).
"E eu, nalgum
tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu
morri" (Rm 7.9).
"A força do
pecado é a lei" (1 Co 15.56).
E evidente, assim,
que o propósito de Deus ao dar a lei, após a humanidade ter existido sem ela
por dois mil e quinhentos anos (Jo 1.17; G1 3.17), era, em primeiro lugar,
trazer ao homem condenável o conhecimento de seu pecado e, então, de sua completa
impotência à luz das justas exigências de Deus. É pura e simplesmente um
ministério de condenação e morte.
O QUE ALEI NÃO PODE FAZER
"Por isso
nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei
vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.20).
"Sabendo que
o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo,
e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada" (G1 2.16).
"Não aniquilo
a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu
debalde" (G1 2.21).
"E é evidente
que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da
fé" (G1 3.11).
"Porquanto o
que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando
o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na
carne" (Rm 8.3).
"E de tudo o
que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado
todo aquele que crê." (At 13.39).
"Pois a lei
nenhuma coisa aperfeiçoou e desta sorte é introduzida uma melhor esperança,
pela qual chegamos a Deus" (Hb 7.19).
O CRENTE NÃO ESTÁ DEBAIXO DA LEI
O texto de Romanos
6, após declarar a doutrina da identificação do crente com Cristo em sua morte,
algo cujo símbolo é o batismo (versículos 1-10), começa, no versículo 11, a
expor os princípios que devem dirigir o caminhar do crente - sua regra de vida.
Esse é o assunto dos doze versículos restantes. O versículo 14 dá o grande
princípio de sua libertação não da culpa do pecado, que é solucionada pelo
sangue de Cristo, mas da dominação exercida pelo pecado - do estado de servidão
debaixo dele. "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais
debaixo da lei, mas debaixo da graça."
A fim de evitar
que isso levasse ao monstruoso antinomianismo - dizer que, portanto, uma vida
piedosa não é algo importante - o Espírito imediatamente acrescenta: "Pois
que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo
nenhum" (Rm 6.15).
Certamente, todo
coração renovado responde "Amém" a essa declaração.
Então, Romanos 7
introduz outro princípio de libertação do jugo da lei. "Assim, meus
irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que
sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos
fruto para Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que
são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas
agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos
retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da
letra" (Rm 7.4-6). (Isso não se refere à lei cerimonial, veja o versículo
7.)
"Porque eu,
pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus" (G12.19).
"Mas, antes
que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela
fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos
conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio
a fé, já não estamos debaixo de aio" (G13.23-25).
"Sabemos,
porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; sabendo isto, que a
lei não é feita para o justo" (1 Tm 1.8,9).
Por: C. I. Scofield \Divulgação: PERTO DO FIM