8 Lembra-te do dia
do sábado, para o santificar. 9 Seis dias
trabalharás e farás toda a tua obra, 10 mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR,
teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem
o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está
dentro das tuas portas. 11 Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra,
o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o
SENHOR o dia do sábado e o santificou (Êx 20.8-11).
Entendendo o
quarto mandamento
O quarto mandamento é o mais longo do Decálogo e difere dos
três primeiros, cuja formulação é negativa.
O versículo 8 introduz o mandamento positivo que impõe a
obrigação de santificar o sábado, e o versículo 9 fala sobre a obrigação de
trabalhar seis dias. Isso se repete no sistema mosaico (Êx23.12; 31.13-17;
34.21; Lv 23.3), mas aqui aparece também a formulação negativa.
Quando Moisés no seu discurso em Deuteronômio
repete o Decálogo substitui o
verbo hebraico usado para "lembrar" zãchor,n "recordar,
lembrar", por outro, "guardar", shãmôr, "guardar, cuidar,
vigiar", quando diz: "Guarda o dia de sábado" (Dt 5.12).
Os dois verbos estão no infinitivo absoluto, que tem função
de um forte imperativo, bastante comum em leis e mais próximo de um futuro
cominatório, ameaçador.
O
propósito do uso deste verbo "lembrar" aqui em Êxodo é manter o
sábado como dia santo.
Isso mostra que o povo
já conhecia esse dia, mas parece que a sua observância não era levada a sério
antes da revelação do Sinai. As palavras "como te ordenou o SENHOR, teu
Deus" (Dt 5.12b) não aparecem em Êxodo e são uma referência ao Sinai,
quando a lei foi promulgada, visto que Moisés está relatando um fato acontecido
no passado.
Fica evidente que houve um sábado antes da promulgação da
lei. Muitos acreditam que o verbo "lembrar" se refere ao relato do
maná no deserto (Êx 16.22-30).
Isto fica claro pelo fato de que "a maneira incidental
em que a matéria é introduzida e a repreensão do Senhor pela desobediência do
povo sugerem que o sábado já era previamente conhecido" (TENNEY, vol. 5,
2008, p. 267).
No entanto, segundo o rabino Benno Jacob, "lembrar"
aqui não tem conotação de "não esquecer", como aconteceu com o evento
do maná, mas de um "memorial do passado para estabelecer um relacionamento
especial para o futuro" (1992, p. 563).
Os patriarcas
em relação à guarda do sábado
O livro de Gênesis não menciona os patriarcas Abraão, Isaque
e Jacó observando o sábado. Segundo Justino, o Mártir, Abraão e seus
descendentes até o Sinai agradaram a Deus sem o sábado (Diálogo com Trifão
19.5). Irineu de Lião diz que Abraão, "sem circuncisão e sem observância
do sábado, acreditou em Deus e lhe foi imputado a justiça e foi chamado amigo
de Deus" (Contra as Heresias, Livro IV, 16.2).
O sábado institucional não
era mandamento nem havia imposição sobre a sua observância; talvez, seja essa a
razão de aos poucos ter caído no esquecimento.
A linguagem do quarto mandamento "Lembra-te do dia de
sábado" (Êx 20.8) reforça a ideia de que não se trata de uma instituição
nova, mas existente desde a criação.
O mandamento consiste em parar de trabalhar a cada seis dias
e é extensivo a todos os israelitas, seus familiares e também servos, animais
de carga, convidados, imigrantes estrangeiros e qualquer um que esteja dentro
de seus portões (v. 10).
Mas aqui se omite uma informação que aparece em Deuteronômio
e revela o aspecto humanitário do mandamento: "para que o teu servo e a
tua serva descansem como tu" (Dt 5.14b).
Em Êxodo, é revelado o caráter espiritual, pois se mostra que
a lei do sábado deriva da criação e se refere ao sétimo dia em que Deus
descansou (v. 11). O sábado do Decálogo é semanal e uma amostra do descanso
eterno de Deus (Sl 95.11; Hb 4.3-6).
O sábado legal é exclusividade dos israelitas e nenhum povo da terra
recebeu tal responsabilidade, nem mesmo a Igreja (Êx 31.13- 17). A adoração no
tabernáculo acontecia semanalmente e isso justifica a instrução da lei do
sábado na presente seção que aborda a ordem do culto e demais serviços no
tabernáculo.
O tema do sábado havia sido tratado por ocasião do maná (Êx
16.23-30) e no quarto mandamento (Êx 20.8-11); no entanto, Javé retoma o
assunto aqui para que o presente preceito seja observado de maneira apropriada.
A observância
do sábado legal é perpétua
A observância do sábado legal é perpétua, sob pena de morte
para quem violar (vv. 14-6) e isso por se tratar de um sinal entre Javé e
Israel (Êx 31.13, 17).
Não é mandamento para todos os povos nem para a Igreja. É o
segundo sinal para os israelitas, que já tinham a circuncisão como primeiro
sinal desse concerto (Gn 17.10-14). Ao longo dos séculos, os judeus trataram
esses dois preceitos com a mesma atenção.
O Decálogo registrado em Deuteronômio apresenta o sábado como
memorial da saída dos israelitas do Egito: "Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR,
teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu
Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado" (Dt 5.15).
O sábado legal é mandamento exclusivo para o povo
de Israel.
Os dez mandamentos:
valores divinos para uma sociedade em constante mudança / Esequias Soares. —
Rio de Janeiro: CPAD, 2014. Perto do Fim - Site Cristão