Se ninguém me perguntasse, eu saberia; se quero explicar a quem me
pergunta, não sei’. Era assim que Agostinho expressava sua dificuldade em
definir ‘tempo’. O mesmo parece verdade com ‘trabalho’. Pensamos que sabemos o
que é trabalho, mas, quando tentamos pôr em palavras o que pensamos que sabemos
o que é trabalho, gaguejamos.
Começarei explicando o que é trabalho destacando algumas coisas.
Primeiro, embora muito estrênuo, trabalho não é simplesmente labuta e
fadiga, como alguns tendem a pensar, interpretando Gênesis 3 em parte
incorretamente.
-----Na verdade, muitos gozam do trabalho que fazem e os que fazem são os
melhores trabalhadores. Não seria estranho dizer que os melhores trabalhadores
não trabalham? Segundo, trabalho não é simplesmente emprego remunerado.
Embora a maioria das pessoas nas sociedades industrializadas esteja
empregada pela remuneração que percebem, muitos trabalham duro sem receber
pagamento. Pegue, por exemplo, as donas de casa (raramente donos de casa) que
gastam quase todas as horas em que estão acordadas mantendo uma casa em ordem e
criando os filhos. Muitas delas com razão se ressentem quando as pessoas
insinuam que não trabalham; isto é acrescentar um insulto (‘você não trabalha’)
a uma injúria (elas não recebem pagamento).
Definindo Trabalho
Precisamos de uma definição abrangente de trabalho,
uma que inclua o trabalho desfrutado e o trabalho sofrido, o trabalho
remunerado e o trabalho voluntário.
Uma definição muito simples de trabalho seria ‘uma
atividade que serve para satisfazer as necessidades humanas: Você prepara uma
refeição para ter algo que comer; você digita manuscritos para receber um
cheque.
Claro que cozinhar pode ser seu passatempo, então
você cozinha, porque você gosta de cozinhar, e encher estômagos vazios é, nesse
caso, um benefício colateral.
Semelhantemente, jogar futebol (se você é jogador
profissional) ou ler livros (se você é aluno ou professor) pode ser seu
trabalho; então você joga, porque precisa de dinheiro ou reconhecimento, e lê
livros, porque precisa passar nos exames ou preparar uma conferência; a pura
diversão de jogar ou ler é, então, uma coincidência feliz. Portanto, trabalhar
é uma atividade instrumental: Não é feito para o seu próprio bem, mas para
satisfazer necessidades humanas”
Fonte: VOLF, M. Trabalho in
PALMER, M. D. (Ed.) Panorama do Pensamento Cristão. 1 ed., RJ:
CPAD, 2001, pp.225-26).